terça-feira, 16 de abril de 2019

A educação em xeque

Como diria Caetano Veloso, "é preciso estar atento e forte"! O Brasil vem passando por uma série de investidas políticas que tem objetivos -- no mínimo -- duvidosos. Uma vez que a tarefa da Filosofia é refletir sobre o homem e o mundo em que ele está inserido, é necessário pensar sobre como essas alterações propostas podem afetar nosso cotidiano. A Educação é um dos tópicos que pode passar por mudanças. Que tal refletir, com um humor ácido, sobre isso? Seguem dois links: um deles de um programa do Gregorio Duvivier, que trata e explicita as reformas que o atual governo pretende realizar; o outro, da canção citada, pela maravilhosa voz e interpretação de Gal Costa, em 1969.
Boa reflexão!

Greg News - Educação

Gal Costa - Divino Maravilhoso

terça-feira, 2 de abril de 2019

FILOSOFIA E FELICIDADE


FINALIDADE ÚLTIMA DA FILOSOFIA

Em sua origem histórica, a relação da filosofia com a felicidade era fundamental, pois a vida boa seria a finalidade última da investigação filosófica. Para que vocês entendam bem o que nós professores de filosofia queremos dizer com “finalidade última” de uma ação, observe a seguinte sequência de perguntas:
·      *   Filosofar pra quê?
Para pensar melhor sobre tudo: os fatos, as pessoas, a vida.
·     *     Pensar melhor sobre tudo o quê?
Para encontrar soluções aos problemas da existência – a minha e a de outras pessoas.
·    *      Encontrar essas soluções serve para quê?
Para ter menos problemas, ficar mais tranquilo e viver melhor.
·     *  Viver melhor para quê?
Para me sentir bem, em paz comigo mesmo e com o mundo.
·      *   Sentir-se assim para quê?
Para ser feliz.
·        *  Ser feliz para quê?
Não sei. Talvez para deixar as pessoas que me cercam felizes também.
·         * Deixá-las felizes para quê?
Para que eu fique feliz com a felicidade delas.

Vemos que, no final, as respostas começam a ser circulares. Voltam sempre ao mesmo ponto, ou seja, à ideia desse sentimento de bem-estar, de satisfação consigo mesmo e com a vida, ligada também à sensação de plenitude, de já ter tudo e não precisar de mais nada. Essa é uma boa descrição da felicidade.
Portanto, finalidade última é aquela que está por detrás de todas as finalidades mais imediatas e conscientes de uma ação. Geralmente inconsciente, ela é o motivo fundamental de uma conduta.


ANALISANDO UMA SITUAÇÃO FILOSÓFICA II


O SOLDADO E O FILÓSOFO
Em uma manhã ensolarada da antiga Atenas, a população desenvolvia tranquilamente seus afazeres.
De repente, um homem cruza a praça correndo, e logo se ouvem gritos desesperados:
– Pega ladrão! Pega ladrão!
Um soldado imediatamente se lança em disparada atrás do sujeito. Sócrates, por sua vez, pergunta:
– O que é um ladrão?

ANALISANDO A SITUAÇÃO
·        *  Onde e quando ocorre o episódio relatado? Quais são seus personagens?
Ocorre em Atenas, cidade-Estado da antiguidade grega, em algum momento da vida de Sócrates (c. 469-399 a.C.), filósofo que é um dos personagens dessa cena. Os outros dois personagens são um soldado e um ladrão.
·        *  A historieta pode ser dividida em dois momentos. Quais são eles?
Veja que há um antes e um depois na narrativa. Primeiramente, temos a vida nesse local de Atenas seguindo seu fluxo normal, cotidiano, automático e transparente. Então entra em cena o ladrão e se produz uma quebra, que dá origem às reações do soldado e de Sócrates.
·       *   Como reage o soldado? E Sócrates?
O soldado tem uma atitude totalmente distinta da de Sócrates. Ele não coloca em dúvida o sentido do que vê e ouve, nem a conduta que deve ter. Sua atitude é a de partir imediatamente para a ação. O mesmo não ocorre com Sócrates: a quebra gera nele a dúvida. E, com a pergunta “o que é um ladrão?”, ele entra em reflexão.
·        *  O que essa historieta pretende ilustrar?
Podemos dizer que a historieta ilustra, de maneira caricatural, as funções sociais do soldado e do filósofo. O soldado deve manter a ordem e proteger a cidade e sua população. Assim, ele reagiu conforme seu dever e sua função (ou “natureza”, como entendiam os gregos). o filósofo, por sua vez, é aquele que busca a sabedoria e, para tanto, não pode simplesmente seguir o que pensa e diz a maioria das pessoas (no caso, criticar e repudiar irrefletidamente o ladrão) e o que faz o soldado (persegui-lo e prendê-lo). Por isso, a reação de Sócrates é cautelosa, ponderada, e ilustra a maneira de proceder do filósofo: questionando, procura “des-cobrir” algo que seja importante para maior compreensão das coisas.
·      *    Que objeções podemos fazer às atitudes de cada um?
Talvez possamos dizer que o filósofo não pode duvidar o tempo todo: ele precisa alcançar algumas certezas que lhe permitam também agir ou propor ações. De modo semelhante, o soldado não pode somente obedecer ordens, comandos: ele também precisa refletir antes de agir, senão é capaz de realizar ações injustas. Assim, podemos concluir que ação e reflexão se complementam. Praticadas no momento oportuno e de forma equilibrada, contribuem para o bem-estar do indivíduo e da sociedade.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2016. ( Texto adaptado).